quarta-feira, 2 de junho de 2010

Literatura Brasileira: Poeta do mês João Guimarães Rosa


Um breve comentário sobre João Guimarães Rosa, um dos mais importantes escritores brasileiros. Poliglota tinha fascínio por estudo de línguas estrangeiras.

“E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas
ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional.
Principalmente,porém, estudando-se por divertimento,
gosto e distração.”
João Guimarães Rosa

Principais características nas obras de Rosa, Realismo mágico, regionalismo, liberdades e invenções lingüísticas e neologismos são algumas das características fundamentais de sua literatura.

“Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens.”
João Guimarães Rosa

Durante o terceiro tempo do Modernismo brasileiro, em 1962 foi publicado o livro de Guimarães Rosa Primeiras Estórias, em que narram, nas 21 Estórias temas que abordem, simbolicamente, existência humana. As histórias seguem a linha dos contos tradicionais.
Analisando rapidamente a obra de Rosa, à primeira vista, durante uma primeira leitura da obra, encontra uma certa dificuldade, na linguagem que soa erudita e inteligível. Mas essa avaliação precipitada, se desfaz a partir da segunda leitura em que o leito observa na realidade qual a intenção de Guimarães Rosa. Em que o autor busca através dos contos recupera na escrita a fala do sertão Mineiro, por meio dos personagens.

Analise da Obra, A Terceira Margem do Rio.

RESUMO DA OBRA
A terceira margem do rio conta a história de um homem que evade de toda e qualquer convivência com a família e com a sociedade, preferindo a completa solidão do rio, lugar em que, dentro de uma canoa, rema “rio abaixo, rio a fora, rio a dentro”.

Por contradizer os padrões normais de comportamento, ele é tido como um desequilibrado.

O narrador-personagem é seu filho e relata todas as tentativa da família, parentes, vizinhos e conhecidos de estabelecer algum tipo de comunicação com o solitário remador. Contudo o pai recusa qualquer contato.

A família, inicialmente aturdida com a atitude inusitada do pai, vai-se acostumando com seu abandono. Com o tempo, mudam-se da fazenda onde residiam; a irmã casa-se e vai embora, levando a mãe; o irmão também muda-se para outra cidade. Somente o narrador permanece.

Sua vida torna-se reclusa e sem sentido, a não ser pelo desejo obstinado de entender os motivos da ausência do pai: “Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio-pondo perpétuo.”

Um dia, dirige-se ao rio, grita pelo pai e propõe tomar o seu lugar na canoa. Mediante a concordância dele, o filho foge, apavorado, desistindo da idéia: “E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão. (...) Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado.”

O narrador-personagem nos dá a conhecer um ser humano cujos ideais de vida divergem dos padrões aceitos como normais. Trata-se do pai do narrador, o qual com sua atitude obstinada, ao mesmo tempo, afronta e perturba seus familiares e conhecidos, que se vêem obrigados a questionar as razões de seu isolamento e alienação.

O único a persistir na busca de entendimento da opção do pai é o narrador, que não descuida dele e chega a desejar substituí-lo. A escolha do isolamento no rio instiga permanentemente o filho. Este é levado a questionar o próprio existir humano.

A obra de Rosa, A terceira Margem do Rio, seu conto mais famoso e o mais aberto conto do autor. No conto existe a intertextualidade bíblica com Noé. Um conto com seu tempo cronológico extenso, que relata toda a vida do narrador/personagem, conforme o amadurecimento do narrador/personagem são estimulados dando enfoque ao tempo psicológico.
Guimarães nos apresenta no conto sua maior característica à paisagem rural em seu espaço no conto, tendo a presença concreta do rio. O espaço relatado por Guimarães Rosa é envolvido por magia e transcendentalismo durante a leitura do leitor, no ir e vir do rio da vida. Rosa sempre teve em destaque em sua imaginação o rio.

[…] amo os grandes rios, pois são profundos como a alma do homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como os sofrimentos dos homens. Amo ainda mais uma coisa de nossos grandes rios: a eternidade. Sim, rio é uma palavra mágica para conjugar a eternidade.
Guimarães Rosa

Os personagens de Guimarães Rosa, apresentam uma característica com tipos sociais, esses personagens não possuem nome. Os personagens principais o pai sempre quieto, isolado, o filho e narrador rejeitado na infância para ser companheiro do pai. Já adulto, busca a oportunidade de realizar o desejo de criança. Mas quando o consegue acredita não estar preparado para ir rumo ao desconhecido.
Segundo Marli Leite, da Universidade de São Paulo / CNPq, em seu artigo “Muitas vozes em uma só: A Terceira Margem do Rio*”

“Tratar da literatura de João Guimarães Rosa dentro das
premissas acima estabelecidas é possível porque esse é um
autor que busca a originalidade, a estilização, e para isso “trabalha”
pelo discurso,os recursos da língua. O objetivo de Guimarães construir
literatura em linguagem que, o mais possível,seja identificada
com o sertão e com o Brasil. Não é a fala contemporânea da
cidade que interessa ao autor,é a fala rural, ilimitada.”
Marli Leite.

Referências:

http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/guimaraesrosa/index.htm

http://www.vidaslusofonas.pt/joao_guimaraes_rosa.htm

http://www.vidaslusofonas.pt/joao_guimaraes_rosa.htm

http://pt.shvoong.com/books/185737-terceira-margem-rio-análise-sob/

acessos: nos dias 20, 22 e 23/05/2010

LEITE, Marli. Muitas vozes em uma só: A terceira margem do rio. Universidade de São Paulo/ CNPq.

http://www.ufpe.br/pgletras/Investigacoes/Volumes/Vol.21.2/Marli_Leite.pdf

Consulta 22/05/2010

ROSA, João Guimarães. 1994. A terceira margem do rio. In: —

Primeiras estórias. Ficção completa, volume II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar.

Consulta em 28/04/2010


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"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade." Carlos Drummond de Andrade